O advogado Aldo Romani Netto, que defende o empresário, diz que o recebimento da denúncia não era esperado
A 3ª Vara Criminal de Diadema, na região metropolitana de São Paulo, aceitou denúncia do Ministério Público de São Paulo e tornou réu o empresário e atleta Renato Cariani, 47, suspeito de envolvimento em um esquema de desvio de produtos químicos para a fabricação de drogas como cocaína e crack.
A decisão, a que reportagem teve acesso, foi assinada nesta sexta-feira (16) pela juíza Maria da Conceição Pinto Vendeiro. Em nota, a defesa de Cariani disse que as acusações contra ele são, “para além de inconsistentes, desprovidas de qualquer sentido lógico”.
Também se tornaram rés outras quatro pessoas, entre elas, Roseli Dorth, sócia do influenciador em uma empresa para venda de produtos químicos, a Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda., em Diadema, e o suposto intermediário Fábio Spinola Mota, apontado como membro PCC.
Os acusados têm dez dias para apresentarem defesa e todos precisarão apresentar seus passaportes em até 24 horas, pois estão proibidos de deixar o país. A Justiça indeferiu pedido de bloqueio de bens dos suspeitos.
O advogado Aldo Romani Netto, que defende o empresário, diz ainda que o recebimento da denúncia não era esperado, “uma vez que inexistem indícios de autoria e prova da materialidade delitiva em relação a Renato Cariani”. Afirma também que o influencer está confiante de de que, ao final, a Justiça irá reconhecer sua inocência.
“Não faz qualquer sentido lógico considerar que dois estabelecidos executivos do setor químico, após dedicarem uma vida inteira de trabalho à empresa, aventurar-se-iam no submundo do tráfico de drogas para dividirem, com mais de uma dezena de pessoas, um suposto lucro de R$ 1,5 milhão, enquanto essa mesma empresa faturou R$ 130 milhões reais no mesmo período”, diz trecho da nota.
“Juntamos aos autos mais de uma centena de documentos que comprovam que meu cliente jamais praticou qualquer conduta ilícita, e isso agora será compartilhado com todos, com o levantamento do sigilo do processo”, declarou.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa das demais pessoas que tiveram denúncia aceita pela Justiça.
Mota havia sido preso no início do ano passado em outra operação da PF, a Operação Downfall, que investigou esquema de “tráfico internacional e interestadual de drogas, com diversas ramificações no país”. Para a polícia, ele seria o intermediário de Cariani com o PCC.
Em sua decisão judicial desta sexta-feira, a juíza cita os suspeitos em vários artigos da Lei Antidrogas, como associação para o tráfico, lavagem de dinheiro ou ocultação de bens. As penas podem superar 15 anos de reclusão, de acordo, de acordo com o crime, se forem condenados.
As suspeitas tiveram início após a Receita Federal detectar depósito em dinheiro, no valor de R$ 212 mil, aparentemente feitos pela farmacêutica AstraZeneca. A empresa negou, porém, tal movimentação e também ligação com a empresa da qual o influenciador é sócio, a Anidrol, localizada em Diadema.
Deu-se, então, início à inquirição. O inquérito foi concluído pela Polícia Federal no início deste ano.
Ao longo da apuração, Cariani apresentou troca de mensagens com um suposto funcionário do laboratório. A análise telemática demonstrou, contudo, que teria sido Mota, amigo de Cariani, quem havia registrado um domínio na internet em nome da AstraZeneca, com extensão com.br, e criado um email em nome desse funcionário fantasma.
“Não faz qualquer sentido lógico considerar que uma empresa clandestina, criada para fornecer produtos controlados para o crime organizado, venderia produtos com rótulo original, embalagem original, prazo de validade e número de série, como os veiculados pela mídia no dia da busca e apreensão”, afirma a defesa de Cariani.
A hipótese da polícia é que parte do material adquirido legalmente pela Anidrol era desviado para a produção de cocaína e crack. Para justificar a saída dos produtos, eram emitidas notas fiscais falsas e depósitos em nome de laranjas, usando indevidamente o nome da AstraZeneca.
Conforme a investigação, foram desviadas cerca de 12 toneladas de produtos como acetona, éter etílico, ácido clorídrico, cloridrato de lidocaína, manitol e fenacetina, substâncias utilizadas para transformar a pasta base de cocaína em pó ou em pedras.
“A gente não pegou a droga, porque essa informação só chegou para a gente em 2021. Então, os produtos já haviam sido desviados”, disse à reportagem o delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF.
A estimativa é que o esquema de desvios de produtos possa ter rendido ao grupo valores superiores a R$ 6 milhões.
Os documentos analisados abrangem o período de 2016 a 2020.
O QUE DIZ CARIANI?
Quando houve a operação da PF, em dezembro, o influenciador se manifestou por meio de vídeos publicados no Instagram.
Segundo ele, a empresa da qual é sócio tem mais de 40 anos e opera com todas as licenças necessárias.
“O importante é o seguinte: eu sei quem eu sou, a jornada que cumpro, sei muito bem disso. Quem tem empresa está fadado a esse tipo de situação. Estou tranquilo”, afirmou, em trecho do vídeo.
POR FOLHAPRESS