O número de assinaturas no pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), articulado por deputados da oposição na Câmara dos Deputados, chegou a 129 nesta quarta-feira (21). O grupo de deputados que está coordenando a apresentação do pedido pretende protocolar o documento ainda hoje. O movimento ocorre na esteira da repercussão do discurso do petista comparando a atuação de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto provocado por Hitler na Alemanha nazista.
O número ultrapassa o processo enfrentado pela ex-presidente Dilma Rousseff, que teve 124 signatários em 2016. A petista teve o mandato cassado.
“Estamos diante do maior processo de impeachment aberto na história do Parlamento”, declarou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) durante uma coletiva de imprensa. Ela encabeça a lista de assinaturas de deputados federais no pedido.
Segundo a deputada, Lula pode ter cometido crime de responsabilidade por “ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”, conforme consta no Artigo 5º da Constituição.
Em seguida, o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) criticou a fala do presidente. “Lula também comete crime de racismo, sua manifestação é antissemita, comparando hoje a reação legítima de Israel ao crime bárbaro de genocídio cometido por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Isso é inaceitável”, afirmou.
Esse não é o primeiro pedido de impeachment contra o petista. Em março do ano passado, o mesmo grupo oposicionista na Câmara protocolou o que chamaram de “superpedido” de impeachment contra Lula.
Na ocasião, os parlamentares argumentaram que o presidente cometeu pelo menos três crimes de responsabilidade: quebra de decoro, ameaça e coação a um representante do poder legislativo e desvio de função. Isso aconteceu após uma declaração de Lula sugerindo que houve uma suposta “armação” por parte do senador Sergio Moro (União-PR) em relação à operação Sequaz, conduzida pela Polícia Federal.
Antes disso, houve um outro pedido de impeachment que solicitava o afastamento de Lula da Presidência da República devido às suas declarações de que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi um “golpe de Estado”.
Entenda
A declaração de Lula foi dada durante entrevista coletiva realizada no último domingo (18), depois da participação do presidente na 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Abeba, capital da Etiópia.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler decidiu matar os judeus”, afirmou o petista na ocasião.
Após as declarações de Lula, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou o presidente e descreveu suas palavras como vergonhosas e graves. Ele anunciou que o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, convocaria o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, para uma “dura” repreensão formal.
“Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa e fará isso ao mesmo tempo, em que defende o direito internacional”, declarou nas redes sociais.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, também foi às redes sociais para dizer que condena veementemente a declaração do presidente do Brasil. Herzog disse que há uma “distorção imoral da história” e apela “a todos os líderes mundiais para que se juntem a mim na condenação inequívoca de tais ações”.
Entidades e organizações também criticaram a declaração de Lula. A Conib (Confederação Israelita do Brasil) repudiou a fala. A instituição classificou a afirmação como “distorção perversa da realidade que ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes”.