Todos os anos, mais de 1.500 dançarinos, que participam de diferentes quadrilhas juninas da Paraíba, realizam uma verdadeira maratona de ensaios e apresentações em busca de boas notas, de títulos, de excelência no desempenho artístico. Não é apenas festa ou diversão. É competição. Que tem como objetivo final as disputas regionais e nacional, o reconhecimento de quadrilheiros do Nordeste e do Brasil, mas que se inicia no microcosmo de suas respectivas comunidades.
Isso acontece porque as mais de 160 quadrilhas juninas de competição registradas atualmente na Paraíba e que participam dos festivais pelo estado representam acima de tudo suas localidades. Em municípios maiores, como João Pessoa e Campina Grande, simbolizam seus bairros ou comunidades (muitas vezes periféricas), mas em outros casos as quadrilhas juninas representam a própria cidade, ou mesmo uma região específica da Paraíba que agrega um conjunto de municípios menores. Ainda assim, a regra que prevalece é esse senso de localismo aflorado que estimula as rivalidades.
As distintas competições respeitam um conjunto de regras comum, com critérios e quesitos iguais entre si, e que funcionam a partir de um sistema de classificação para etapas maiores, sempre mais importantes e mais abrangentes.
Tal como acontece em outros estados, portanto, a disputa na Paraíba se inicia antes de tudo a partir de disputas locais, que classificam para uma etapa estadual e assim por diante. Por exemplo, são dez festivais de quadrilhas juninas que atualmente são organizados na Paraíba e que compõem a Federação das Entidades das Quadrilhas Juninas da Paraíba.
É desta forma que existem, por exemplo, os festivais de quadrilhas juninas de João Pessoa, de Campina Grande e do Agreste. São considerados os maiores e de maior visibilidade, mas todos indistintamente acabam por fazer parte de uma mesma estrutura competitiva.
Ainda assim, o festival de João Pessoa aconteceu este ano no Busto de Tamandaré, numa estrutura montada na orla pessoense. Já o de Campina Grande e o do Agreste aconteceram na tradicional Pirâmide do Parque do Povo.
E mesmo com dimensões, tamanhos e apelos midiáticos diferentes, existem ainda os festivais de Santa Rita e Região Metropolitana, Zona da Mata, Vale do Paraíba, Brejo, Patos, Vale dos Dinossauros e Monte Horebe. Com todas as quadrilhas juninas, ao menos em teoria, disputando em pé de igualdade em busca do título.
De cada eliminatória regional, se classificam três para o Festival Paraibano de Quadrilhas Juninas, que este ano vai acontecer no Busto de Tamandaré, em João Pessoa, a partir deste sábado (15) e até terça-feira (18).
A partir daí, a disputa ganha outras esferas. A campeã paraibana disputa o Festival de Quadrilhas Juninas da Globo Nordeste, que vai acontecer em Recife em 27 de junho. Já a vice-campeã vai para o Festival da União Nordestina de Entidades Juninas, que vai acontecer em 5 de julho em Teresina. Tem mais. É a campeã do Festival da Globo Nordeste quem vai representar a região na etapa nacional, que em 2024 vai acontecer em Brasília, nos dias 27 e 28 de julho.
“Existe um regulamento padronizado para que todas as quadrilhas juninas tenham as mesmas condições para se preparar para aquilo o que será cobrado em cada um dos quesitos”, explica Genilson Félix, que é o atual presidente da Federação das Entidades das Quadrilhas Juninas da Paraíba.
O que é levado em consideração na hora da competição
Para o público que costuma lotar os diferentes festivais Paraíba afora, o que existe é uma grande festa, que preserva e respeita as tradições culturais do Nordeste brasileiro. Nas apresentações do festival de Campina Grande, por exemplo, uma turista de Manaus, Núbia Oliveira, falava da felicidade em acompanhar aquela apresentação pela primeira vez.
“Eu sempre gostei de festa junina, porque eu gosto das cores e das tradições. É um sonho meu realizado, porque eu estou achando tudo muito bonito”, declarou ela.
Para os quadrilheiros, contudo, é disputa, competição, rivalidade. Em que a quadrilha junina tem que defender o tema de sua apresentação e passar uma mensagem para público e jurados. “O nervosismo aqui é inevitável”, destacou Ísis Pompéia, uma das dançarinas que se apresentou no Parque do Povo na última terça-feira (11).
E tudo isso acontece porque as disputas são mesmo levadas a sério. Com regras que precisam ser respeitadas. Por exemplo, cada quadrilha junina tem 40 minutos a disposição para dizer a que veio. Esse tempo é dividido em dez minutos para a entrada no arraial e trinta minutos para a exibição em si. Mas já na entrada os jurados começam a ficar atentos.
São nove os quesitos que são analisados a cada apresentação
Entrada no arraial
Figurino
Marcador
Coreografia
Animação
Conjunto
Repertório musical
Casamento
Saída do arraial
Em cada um dos festivais, são sete jurados escolhidos. E cada um deles avalia todos os critérios, atribuindo assim uma nota, em cada quesito, para cada uma das quadrilhas juninas participantes. Com o detalhe de que, por força de regulamento, os jurados de uma fase não podem ser aproveitados em outra fase. Assim, nenhum dos 70 jurados que trabalham nas dez etapas locais pode ser selecionado para a etapa estadual.
De toda forma, das notas atribuídas, a mais baixa e a mais alta são eliminadas. “Isso serve para que haja um balanceamento e um equilíbrio nas notas. E caso alguém jurado erre ou tenha má intenção, essa nota atípica não prejudica o julgamento como um todo”, explica Márcio Marques, que organiza os festivais de Campina Grande e do Agreste.
A maior das rivalidades
Existem muitas rivalidades no cotidiano das quadrilhas juninas paraibanas, mas uma em especial chama a atenção. E isso acontece principalmente por causa da força que elas possuem nas disputas.
De João Pessoa, surge a Lageiro Seco, que tem 77 anos de história, é a quadrilha junina mais antiga do Brasil ainda em atividade e a maior campeã estadual.
Mas, de Campina Grande, surge a Moleka 100 Vergonha, a única do estado que já venceu duas vezes a competição realizada pela Globo Nordeste e uma vez a etapa nacional.
As duas, por sinal, estarão mais uma vez nas disputas estaduais. A Moleka 100 Vergonha venceu o festival de Campina Grande e a Lageiro Seco, depois de um bicampeonato em 2022 e 2023, ficou em terceiro lugar em 2024 no festival de João Pessoa. A campeã em João Pessoa este ano foi a quadrilha Junina Fogueirinha.
Por: G1 PB